domingo, 12 de fevereiro de 2012


            

HOMEM SOL


            Seus olhos são graúdos, profundos e intensos. Se, Machado de Assis retrata a ressaca do olhar de Capitu eu me dou à liberdade de retratar o olhar do homem sol: curador de qualquer ressaca; através do olhar ele transpassa paz. Paz que vem da alma e alma grande esse homem tem de sobra!
            Caminhava pela rua irradiando luz solar, Apolo seu padrinho o havia presenteado com esse dom: emanar luz através de seu sorriso, seduzir com seu sorriso e ás vezes –muitas eu diria – alguns ficavam cegos com sua luz e perdiam-se no encanto doce de sua languidez inconsciente.
            Muitos o queriam, outros fugiam dele e evitavam enxerga-lo de fato, talvez por medo de serem tomados por sua luz cativante. Mas, aqueles que se enchiam de coragem e retiravam os óculos, ao contrário da cegueira – como era temido – experimentavam nitidez.
            Uma vez um herói no meio de sua saga o encontrou; era primavera, e esse fato ajudou bastante para a clareza da visão, mas, o que queremos dizer e onde queremos chegar com tudo isso é bem complexo assim como todas as jornadas.
            Os encontros desencontrados do homem feito de sol o perseguiram durante muito tempo, talvez por falta de crença, talvez por falta de projeção da luz, até que um dia... Um dia sempre chega, ou sempre se chega ao dia que se espera chegar, e ele como era amigo do tempo tinha paciência de esperar. Esperou. Concretizou, batalhou, errou e acertou – lembrou-se da saga do herói e dos muitos conselhos passados por ele – levantou quando caiu. Mais levantou do que caiu- quase caiu – sustentou.
            Hoje o homem sol é herói, e além de luz descobriu que também é guerreiro, sua saga ainda não terminou, mas, nenhuma saga termina do dia para a noite – a saga nem termina para falar a verdade – pois saga representa vida e vida representa intensidade;
            Ele ainda não sabia das novidades intensas previstas pelo oráculo de Apolo, mas, podia senti-las de forma intuitiva em cada pulsar de sangue iluminado em suas veias, pois era acostumado com as mudanças, mesmo que ás vezes se acomodasse com elas - não negativamente - apenas por não entender que para correr adiante teria que aumentar a luz.

Curitiba, abril de 2009.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SER ESTRANHO

Recebi por e-mail e achei incrível!
Vale Compartilhar!
Bjo


Ser estranho
Ao perceber minhas pequenas reações diante de simples eventos
cotidianos que me cercam e dos quais participo tenho que admitir que às vezes sou meio estranho; e isso até para mim mesmo.
Medos, manias, ciúmes, picuinhas internas de todos os tipos me fazem reagir nas formas mais inusitadas com as quais, mesmo que compactue,pois ajo, não concordo nem um pouco. Tanto que se fosse outra pessoa em meu lugar lá estaria eu com meus julgamentos ou disfarçados modos de reprovação ainda que tente julgar o menos possível quem seja.
Mas esses momentos esquisitos acontecem. E duvido que algum dia
deixarão de acontecer. Quando mentimos, por exemplo - se olharmos bem para nós nesse momento - não há algo de esquisitão nisso? E quando falamos mal de alguém? Não fica lá aquele serzinho retorcido em suas muitas faces a nos prescutar sussurrando-nos: “pessoa estranha você”?
Mesmo assim seguimos em nossa ética flutuante dissimulando-nos em
tantos formatos e contornos, imprimindo feições indecifráveis em
nossas caras e bocas ou mesmo suprimindo o fluxo de nossa energia, especialmente quando tentamos esconder algo de alguém; mas não apenas aí - nós os esquisitinhos seres de mil e uma artimanhas nessa complexa convivência com o outro e com nós mesmos.
Estranhos também somos no ciúme e em outros sentimentos de posse. E nesse caso só rindo de nossa própria cara para aliviar o peso de tantas maluquices que se passam em nossas mentes.
Dizia um que pessoa de caráter é aquela que age na intimidade da mesma forma que agiria publicamente. Pois existe essa? Uma que ao menos de vez em quando na privacidade solitária não pratique suas obsessões e tenha pensamentos e sentimentos ligeiramente sórdidos e esdrúxulos,muitas vezes ligados à satisfação de suas vontades?
Eu mesmo duvido, embora não sirva de referência pois em questões de estranheza sou alguém que, digamos assim, não pode ficar chocado com a de ninguém.
Mas no fundo há quem possa? E nossos valores pequeno-burgueses não são apenas capas e escudos a esconder de nós mesmos nossa própria esquisitice primitiva?
Ah...como eu gostaria de ser livre para participar de umas boas
surubas e permissividades de todos os tipos, não só sexuais, mas
todas, todas mesmo, pelo menos as que não causassem mal ao próximo! E sem nenhuma culpa, claro. Experimentar nem que fosse por um momento todas minhas potências humanas sem nenhuma barreira. Que delícia deve ser! Mas acho que morreria de culpa antes da primeira rodada. E aí que não quero mesmo, a vida sempre vale mais.
Está vendo? São apenas algumas de minhas esquisitices que agora me escapam. Mas na maior parte do tempo sou mais normal que isso. E até gosto da vida como ela é, meio caretinha. E sou bobo de não gostar?A não ser que estivesse muito fora de meus propósitos; no entanto não é o caso.
Mas olha o que me vem à cabeça: se somos estranhos não é porque
inventamos um mundo estranho cada vez mais distante do mundo natural? E talvez estejamos nos tornando mais esquisitos a cada dia paradoxalmente sempre alinhados e desalinhados com esse evolutivo e sinistrão parque de diversões construído por nós mesmos. 

Agora, sabe por que ando pensando no quanto somos esquisitos?
É que outro dia aqui em casa meu cachorro boxer pegou um cachorrinhorecém nascido que estava na rua e o matou. Ele que não foi criado com outros animais a não ser com minha cadela, ao ver seus donos cuidando daqueles filhotes – havia mais de um – abandonados aqui perto de casa, deve ter ficado possesso de ciúme ou sei lá o que, e bastou uma brecha para que pegasse um deles, trouxesse para dentro e o abocanhasse com um só golpe fatal.
E aí se deu uma divisão de valorações e julgamentos entre meus amigos, alguns achando sinistro, estranho e até doentio o comportamento do meu cachorro.
Claro que foram à princípio julgamentos emocionais e por isso longe de eu querer julgá-los certos ou errados.
Mas cá para nós, o que também se estranha, se julga e se rechaça aí não pode ser justamente nossa própria e sufocada natureza animal, ou seja, nós mesmos em nossas inclinações para tudo?
Corrija-me se estiver errado.

Por Magno Mello