domingo, 18 de setembro de 2011

"O POÇO"


UM POÇO DENTRO DE MIM...
            Há semanas o poço estava cheio, não havia encontrado um meio de fazê-lo transbordar. Tentara de tudo: lirismo, mais água, chuva... Nada fora o suficiente.
           Algumas palavras e alguns gestos foram derramados no poço que quase vazou – ainda assim não foram suficiente para renovar seu conteúdo. Foi então que pensou em repetir velhas técnicas: frustrou-se ao perceber que nem os livros de frases feitas, que muitas vezes lhe davam esperança, não tinham mais espaço. A livraria tinha um sabor novo de romance e teoria e não de fábulas e crenças, o cinema o levara para o inusitado... Porém quando se compartilha com o coletivo nem sempre se consegue transbordar, ninguém é obrigado a saber da profundidade do poço do outro, mas os rasos e fáceis de desvendar realmente não lhe interessavam naquele momento... Pensou: profundo demais? Raso demais ou nada demais? Vazou um pouco...
Questionou se no poço havia alguma porta, como num conto que ouvira, lembrou então que todas as portas estavam fechadas – o que não era de todo o mal – afinal, sua relação com outros poços era bem resolvida... A não ser que existisse uma porta emperrada, pensou. Foi então que numa prendida de ar mergulhou para dentro do poço sem pestanejar ou questionar qualquer outra coisa...
Dizem que encontrou um túnel por lá que dá acesso a outro poço! Isso lhe despertou novamente a curiosidade, o desejo de ser desbravador – “desvendador”, eu diria – os túneis que fazem essas ligações são misteriosos e sedutores demais.
Seja lá qual for o destino desse mergulho sabe-se que está seguro, pois não é e nem será o último dos mergulhos, nem a maior profundidade ou a menor altura, será apenas único como todos os outros que foram e que virão.
Mandou um sinal: lembrara das portas e túneis que encontrou das últimas vezes e que por mais que tentasse identificar-se com os caminhos ou tivesse algum tipo de mapa nada adiantaria, apenas tinha a garantia que por mais longo ou escuro que o túnel fosse ou onde a porta pudesse levar saberia que emergiria e que o sinal de sua volta seria marcado pelo jorrar do poço, tal qual uma fonte que purifica e lubrifica a existência.
Num rompante enxergou o céu e as formas luminosas dele.  Suspirou e sorriu aliviado.

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